Osemiárido brasileiro, situado no Nordeste, constitui uma das regiões de maior complexidade climática do planeta e trata-se de um semiárido atípico, tendo em vista a sua proximidade com o Equador, onde predominam climas tropicais úmidos, a exemplo do contexto amazônico. Essa semiaridez se deve ao comportamento irregular do sistema de circulação atmosférica responsável pelas chuvas anuais nessa área. Trata-se de uma região com temperaturas médias elevadas (cerca de 28ºC), com altas taxas de evaporação e balanço hídrico negativo na maior parte do ano.
A irregularidade pluviométrica é marcante, ocorrendo períodos plurianuais de escassez de chuvas, intercalados com anos de chuvas excepcionais. Associado a esse contexto climático destaca-se que essa é a região semiárida mais populosa da Terra e a convivência com o semiárido tem se demonstrado historicamente desarmônica, com destaque para a indústria da seca, caracterizada por estratégias políticas ineficientes, contribuindo para a manutenção da miséria.
Nesse contexto socioambiental a água se destaca como o bem mais precioso e que demanda gestão eficiente. Em termos históricos, desde a criação do Dnocs (1909), a açudagem tem se apresentado como principal estratégia de armazenamento, com destaque para os grandes reservatórios, criticados pelo elevado custo, impactos ambientais e significativa perda por evaporação.
Com o advento da Política Nacional de Recursos Hídricos, na década de 1990, a gestão das águas passou a ser feita a partir de bacias hidrográficas com maior participação democrática nas definição de estratégias de uso. Nas últimas décadas a integração de bacias ganhou destaque, tanto em termos estaduais como regionais, a exemplo do projeto de transposição do São Francisco.
O grande desfio da gestão das águas no semiárido é a segurança hídrica, que demanda-se uma ação efetiva em diversas frentes que envolvem desde estratégias de armazenamento e distribuição até a conscientização dos usuários. Os períodos de superávit hídrico, como estamos vivenciando no presente, dão uma certa tranquilidade em termos de planejamento a médio prazo, porém, nunca devemos esquecer o nosso contexto climático e que novas estiagens virão, cuja imprevisibilidade será cada vez maior em decorrência das mudanças climáticas globais.